Axl`s poetry

enganos que acreditam


Se o tombo não te deixa,
Se aleija e te ameaça
Se te amordaça.
Se te amarra.

Foge, corre, vive,
Luta, desaparece e renasce,
De tarde o que custa mais é ser cedo
Pois cedo entardece e chega a noite

Anoitece o desejo,
Desaparece a verdade,
Ressurge a incompreensão
De algo que surgiu como quase

O quadro pintou-se sozinho,
E agora tem de se apagar,
Ao quadro não chamo destino,
Chamo desaguar.

Peço ao fim um novo início,
Um recomeço,
Peço ao céu uma nova imagem,
Um novo desassossego,

Não consigo viver com a imagem,
Não consigo pensar com o que surge,
Urge a vontade de desaparecer,
De aparecer num outro lugar.
De esquecer toda a mágoa,
De apagar  todo o mar.

Quero um novo azul,
Um novo céu,
Quero ter poder de aquilo que é meu.

Quero parar de me iludir,
De ser mandado,
Enganado,
Subterrado pelo desejo de querer,
Entornado pelo ser e não ser.

Enganos da alma,
Que contagiam o coração,
Enganos da vida,
Que enganam a razão. 

Desembarque - parte II

Morte aqueles que morto me deixaram.

Fogo aqueles da carnificina que cheiraram.

Podre são os corações dos sonhadores,

Podre são as palavras,

Verdadeira é a dor.


Morte aqueles que me incumbiram de sonhar.

Morram todos eles,

Aqueles que eu quero matar.


Desapareçam todos com tudo,

E toda a destruição que causaram.

Para mim hoje é tarde,

Mas foi a única tarde que tenho como verdadeira.


Eu vi a conspurcação,

A podridão de não sentir,

De não sofrer.

Sofro eu ser ignóbil,

Sofre aquele que não quis morrer.

Desembarque - parte I

Hoje o dia morreu,

Levando-me junto com ele.

Nos seus meandros entrelaçou-me,

Para depois me matar.


Nos seus ângulos mortos eu não vi,

Sucumbi por achar saber,

Nada soube.


Ilusões tornam em frustrações,

Que me arrastam e não me deixam levantar.

Hoje não arranjo um sentido,

São os demónios que quero expiar.


Fantasmas recentes que me corroem,

E me fazem tremer.

Hoje não quero acordar,

Somente desvanecer.

Cobertor

São as noites que custam mais a passar.
É o acordar tarde,
Mas ainda assim cedo para dormir.

É o sucumbir a espaços,
E emergir em palavras.

É ao dormir que tudo custa.
É ao sonhar que me perco,
E sinto que no acordar já não desperto.

Primavera entardecida

Hoje é primavera,

Onde o sol não impera,

Onde o vento corta corações que apenas batem.

Ora forte,

Ora fraco.

Limita-se ao “bac” do prato que cai no chão.

Limita-se a ser meia-luz,

No meio de tamanha escuridão.

Limita-me a parecer mas a nunca ser.

Dá-me a mais bela lua,

Com o outro lado do mundo a morrer.

Cisma parte II

Vejo com outros olhos,
Enxergo com dois olhares.
Não encontro a minha realidade.
Perco-me na vaidade de achar que tudo gira à volta da terra.
Da minha terra.

Ecoou a destruição,
A terra debate-se e nada a circunscreve,
Tudo serpenteia entre o cheiro cadavérico
E um poema.

Tudo se escreve no nada que quero dizer,
As palavras são as minhas visões deturpadas,
Quentes e frias,
Tórridas e geladas,
Mortas e vivas,
Escritas e faladas.
Palavras.
São meras palavras.

Cisma

É no entrecruzar com a realidade que me apercebo da mentira.
É ao acordar de tarde que me apercebo do que perdi de manhã.

Sinto que ser e estar só,
são opostos que convergem em mim.
Afogo-me nas verdades e iludo-me em fantasias.
Cicatrizes que tenho mas que teimam em abrir.

Quebro um pouco da dor que há lá fora e trago-a para dentro.
Bem dentro,
Ela perde-se
Ela esconde-se.
Mas ela vive e não me deixa escapar.

Ela ilude-me e teima em me lançar ao chão.
Chão frio e duro.
Duro como eu sou quando não quero ser.