Dissertações de uma mente só

Estou sozinho dentro de mim,

A pensar,

A reflectir tudo o que já perdi,

E o que ainda não aconteceu.

 

Penso e repenso em tudo,

Sinto e recito tudo,

Penso em tudo que nada significa.

Nada disto significa.

Mas para mim é tudo

 

Fundo entro em mim,

E perco-me

Reservo-me em desencontros de alma

 

Encharco-me de pensamentos imprudentes,

De incongruências de uma alma,

Que não consegue falar,             

Então escreve,

Rescreve.

 

Faço mentiras em verdades,

Encontro a bondade de todas as minhas maldades,

Refaço-me não fazendo nada,

E chego ao ponto de partida que é o meu de chegada.

 

Desisto mas insisti em não desistir,

Assim sou incompleto,

Deserto que me ocupa numa quase totalidade.

 

Concluo que sou sortudo,

Que morto se pode gabar de viver?

Eu posso,

Eu vivo,

Eu sonho.

Eu morro por sonhar,

Mas a verdade é que moro em todos os meus sonhos.

 

Frio

Lá fora faz frio,

Tanto frio,

Que me gela a alma,

Me engole o coração,

Me enterra e desterra,

Que me afoga a razão

 

Alimenta-se de medos infundados,

De perdas irreparáveis,

Vive da minha vida,

E mata-me por não viver

 

Foge quando a procuro,

Por isso nunca o encontrarei,

Mas ele vive em mim,

Desta forma sucumbirei,

 

Lá fora o frio não para,

A chuva acolhe-me,

Dá-me as boas vindas,

À vida que eu nunca quis,

Mas sempre mereci.

Perco

Perco-me em sonhos contraditórios,

Contradições de um sonhador,

Que pensa acordado

E erra ao dormir.

 

Que sucumbe a sentimentos,

Que tem medo de viver,

Que vive embrenhado em momentos,

Que quer recriar

 

Imaginar um mundo,

Onde o mundo fosse o meu,

Onde o céu se abrisse,

Onde eu pudesse ser só eu.

 

Onde tudo desse significado as minhas coisas,

Que o nada de hoje não dará,

Onde a lua brilharia sem magoa,

No sitio onde hoje me adormecerá.

 

No momento em que o meu peito parasse de bater,

Eu sucumbiria ao meu sentir,

Ao meu viver,

Renasceria e seria eu,

O céu,

A lua

Onde o eu serias tu e nós.

Nós seriamos só nós

E nunca mais iria acordar.

 

 

Inicio do fim

 Escrevo pois sou escravo de todo o papel,

Sou servo da minha vontade de escrever.

Rescrevendo o que não sou mas penso ser.

 

Querendo atingir o inalcançável,

Incomensurável desgosto sinto.

Vivo,

Por cada vazio que imprimo ao meu ser.

 

Falsifico sentimentos abstractos,

Concretizo a minha ideia de sentir,

Que não sendo concretizável,

Apenas me faz mentir.

 

Minto e Sinto,

Tudo de uma vez,

Passo,

Escrevo,

Rescrevo,

Volto a mentir,

Cedo à razão de enfatizar,

De sublinhar,

De falsificar o que não pode ser lido,

Nem escrito.

 

Sou um surdo a quem a poesia soa prosa.

Sou um pseudo ser,

Que pensa ser,

Mas não sabe o que quer.

 

Sou uma história por acabar.

Uma revolta interna,

Por se concretizar.

Um nada que quer tudo,

E no fim não tem nada

 

Um resto de nada

Circunstancias, vislumbram um mar longínquo
Equidistante a minha dor,
Intermitente e a perder a cor,
Reflexo do que já foi e se perdeu.


Pedaço que um dia foi obra completa,
Vestígio de algo que poderia ter sido,
Refugio dos meus sentidos,
Trepido dos meus dilúvios.

Distúrbios.
Insónias e cansaços.
Fracassos desaguam,
Inauguram uma alma soterrada,
Afundada no desejo do que poderia ter sido.

Q.S.A.

Quero ser alguém,
Que por vezes penso não ser,
Penso não ter tecto,
Faço por debater afectos,
Que no fundo temo sentir.

Olho a vida como se fosse minha,
Olho para mim,
Por vezes perco-me.
Não encontro a alma.
Por vezes seco-me.

Disseco um destino,
Que quero controlar,
Mas que não me pertence,
Encontro o caminho que quis procurar,
Por vezes ele mata-me.

O coração que bate nem sempre é o meu,
A emoção de parte que criei para sentir-me
Serei o certo que vagueia no incerto?
Ou a incerteza de não saber para onde vaguear?

Amo-te

Trepido

Ventos e vontades entrecruzam-se,
Desejos transformam-se em tempestades.
Anseios de chuvas contundentes,
Que lavem almas e mentes.

Tempo que segue a eito,
E tropeça passo a passo.
Num trote ziguezagueado,
Num tempo posto ao lado.

Num negro avistado,
Que um dia iluminou,
De dúvidas aguçadas,
Que a alma não limpou.

De forças e vontades,
Que contrariaram a razão.
Mais ventos e tempestades,
Para sempre virão.

Amo-te

O meu tempo

O tempo corre.
Suga-nos a alma.
Enche-nos de impaciência,
Anseia não estar só,
Quer estar parado e não anda,
Mas quando olhamos ele passou.

Liberta-nos da dor,
Mas faz-nos sofrer.
De impertinências libertinas,
De incongruências vespertinas,
Que queremos adormecer.
De pecados marcados,
Que queremos apagar.
Porém apenas voam,
Pairam no infinito chão,
No infinito perdão de não poder perdoar.

A cabeça arde,
Fumega de solidão.
O mundo corre.
Não percebe.
Não entende a sensação.
Não sabe o que é viver.
Sobrevive sem pão,
E morre por sobreviver.

Amo-te